#FICHAMENTO2 Convergência: fãs que colaboram com a produção cultural

Em seu artigo Crítica da cultura da convergência: participação ou cooptação”, Alex Primo trata sobre a diferentes formas de se discutir a convergência de Jenkins. De acordo com ele, as pessoas enxergam a convergência de forma limitada, percebendo o fenômeno apenas a partir de um aparato tecnológico: celular, televisão.

Este debate patina em duas frentes: a) parte da premissa que outros meios desaparecerão em benefício de apenas um, “convergente”; b) considera a questão da convergência apenas em termos tecnicistas.

Ou seja, a ideia é das múltiplas funções que podemos ter em um aparelho. A televisão ter acesso ao YouTube, acessar redes sociais pela TV.

Contudo, Jenkins insiste em uma convergência de conteúdo:

Meu argumento aqui será contra a ideia de que a convergência deve ser compreendida principalmente como um processo tecnológico que une múltiplas funções dentro dos mesmos aparelhos. Em vez disso, a convergência representa uma transformação cultural à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos.

Para Jenkins, a convergência é um fenômeno típico da Cibercultura, uma cultura a partir das conexões feitas através dos produtos, quando fãs realizam intervenções na indústria de entretenimento.  

Diante dessas intervenções, dessa interação entre os fãs de um produto cultural na rede, a mídia deve se reinventar, visto uma conexão global que cria e distribui novas informações. A famosa WEB 2.0, que demonstra a participação coletiva, quando o conteúdo também é gerado pelo consumidor.

É a conexão global, instantânea e ponto a ponto que faz emergir novas formas de interação com as mídias e através delas. Já se disse que a liberdade de expressão existia apenas para os donos de jornais. Com a expansão de blogs, microblogs (Twitter), podcasts e de serviços digitais para a administração coletiva da produção e circulação de notícias, pessoas desvinculadas de grandes instituições midiáticas ganharam espaço para expressão pública e força de pressão coletiva.

As mídias digitais foram criadas a partir de demandas sociais e fomentam o fortalecimento dos mesmos movimentos coletivos. Em outras palavras, a internet criou tanto a cultura participativa quanto foi criada por ela.

Diante dessa participação dos fãs, Alex Primo, baseado no fenômeno explicado por Jenkins, aplica a ideia de ‘Cooptação’.  Analisando a forma como os fãs são utilizados na reinvenção da produção lucrativa dessas indústrias.

Mesmo que as instituições midiáticas empreendam esforços para proteger seus direitos reservados, elas cinicamente observam a cultura da convergência, assim como descrita por Jenkins, como nova forma de lucro. Mesmo que tardiamente, a indústria aprendeu a aproveitar-se da força de trabalho dos fãs e do mercado ávido por produtos transmidiáticos. Logo, trata-se de resistência ou cooptação?

A busca dos fãs por manter o amado produto em evidência, engaja eles a dar continuidade a produção em outras mídias. Como as fan fictions, é uma forma de colaborar – gratuitamente – com os grandes estúdios, que continuam lucrando, mesmo que indiretamente com essa colaboração. As obras se mantém vivas de tanto repercutidas em novos meios.

De toda forma, a intenção deste texto foi de alertar que o debate não pode resumir-se à celebração da convergência dos interesses da grande mídia com os desejos de consumo de fãs. Esse relacionamento — relevante e inovador, não há dúvida — deve ser visto como apenas um entre tantos fenômenos da cibercultura e não como aquele que descreve e resume nosso tempo.

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