#FICHAMENTO4 Macacos Digitais

Web 2.0: a ideia da criação, todos nós somos produtores de conteúdo. Todos são autores e consumidores, não há mais fronteiras entre eles. A tecnologia, as redes sociais permitem o amadorismo, ou melhor, usuários de internet.

 Andrew Keen, em seu artigo ‘O culto do Amador’ nomeia os usuários da internet como macacos munidos de tecnologia infinita, que utilizam os meios sem preparo. A ferramenta pertence a todos. E todo mundo usa da forma que achar melhor.

Em vez de criarem obras-primas, esses milhões e milhões de macacos exuberantes – muitos sem mais talento nas artes criativas que nossos primos primatas – estão criando uma interminável floresta de mediocridade. Pois os macacos amadores de hoje podem usar computadores conectados em rede para publicar qualquer coisa, de comentários políticos mal informados a vídeos caseiros de mau gosto.

O conteúdo criado por esse usuários é vinculado principalmente nos blogs, que por serem gratuitos, permitem mais acessibilidade. Para Keen, as informações veiculadas nesses sites não tem a mesma credibilidade de um portal de notícias jornalísticos. O autor afirma que esses veículos confundem o senso do que é verdadeiro e do que é falso.

Hoje em dia, as crianças não sabem distinguir entre notícias críveis escritas por jornalistas profissionais objetivos e o que leem em fulano.blogspot.com.

Um outro exemplo citado pelo autor é a questão da maior enciclopédia online do mundo, a Wikipédia,  já que qualquer pessoa pode alterá-la, basta clicar em editar. São mais de 15 mil colaboradores que criaram quase três milhões de verbetes, sem nenhum ter sido atentamente examinado quanto a sua exatidão.

O que parece incomodar o autor já que a Wikipédia parece oferecer mais credibilidade para os usuários de internet do que sites de notícias como a BBC, que tem repórteres apurando um tema e uma equipe editorial que orienta a coleta de notícias.

É o cego guiando o cego — infinitos macacos fornecendo informação infinita para infinitos leitores, perpetuando o ciclo de desinformação e ignorância.

Uma outra questão abordada pelo autor é a aceitação do público quanto a esse conteúdo. Não sabemos detectar o que é certo e o que é errado, mas não desconfiamos e nem buscamos

Mais perturbador que o fato de milhões de nós sintonizarmos de bom grado esse tipo de tolice diariamente é que tem sites nos transformando em macacos sem sequer nos darmos conta. Quando digitamos palavras no Google, estamos de fato criando algo chamado “inteligência coletiva”

Além disso, o autor destaca que a partir dessas notícias, desses nichos, criamos preferências de informações, ficando nas mesmas bolhas.

Enquanto escrevo, há uma guerra brutal no Líbano entre Israel e o Hezbollah. Mas o usuário de Reddit não sabe disso, porque não há nada sobre o assunto entre as 20 matérias mais “quentes”. Em vez disso, os assinantes podem ler  sobre uma atriz inglesa sem seios, os hábitos de caminhar dos elefantes, uma paródia do último comercial do Mac, e túneis subterrâneos no Japão. O Reddit é um espelho de nossos interesses mais banais. Faz um arremedo da mídia noticiosa tradicional e transforma eventos em curso num jogo infantil de Trivial Pursuit.

Principalmente, quando os preferidos da grande maioria são blogs em que as temáticas principais são as próprias vidas dos seus autores.

Transmitir a nós mesmos é o que fazemos, com toda a autoadmiração desavergonhada do Narciso mítico. À medida que a mídia convencional tradicional é substituída por uma imprensa personalizada, a Internet torna-se um espelho de nós mesmos. Em vez de usá-la para buscar notícias, informação ou cultura, a usamos para sermos de fato a notícia, a informação, a cultura.

O desejo de transmitir a própria imagem é algo comum. Queremos ser vistos, exibir nossa personalidade e,assim, ser apreciado. Logo, os sites mais acessados são as redes sociais.

Esse infinito desejo de atenção pessoal está movendo a parte mais dinâmica da nova economia da Internet — redes sociais como MySpace, Facebook, Bebo e Orkut. Como santuários para o culto da autotransmissão, esses sites tornaram-se repositórios de nossos desejos e identidades individuais.

Mas quanto os sites de informação? A verdade é que na Web 2.0, esses núcleos são os mais afetados. Como produzir, apurar fatos sociais com credibilidade, se o público recorre a informações sem credibilidade ou de que nada aborda uma relevância social.

Jornais e revistas de notícias, uma das fontes mais confiáveis de informação sobre o mundo, 2/9 estão em dificuldades graças à proliferação de blogs e sites gratuitos como o Craigslist, que oferecem classificados gratuitos, solapando a publicação de anúncios pagos.

Para o autor, é claro que a democratização permitida na web 2.0 não é um efeito positivo. Visto a forma que ela é utilizada, demonstrando uma grande preocupação quanto as informações e os conteúdos jogados nas redes. Tratando esse fenômeno como uma grande anarquia, sem ninguém que cheque a credibilidade do conteúdo produzido democraticamente.

Os macacos assumem o comando. Diga adeus aos especialistas e guardiões da cultura de hoje – nossos repórteres, âncoras, editores, gravadoras e estúdios de Hollywood. No atual culto ao amador, os macacos é que dirigem o espetáculo. Com suas infinitas máquinas de escrever, estão escrevendo o futuro. E talvez não gostemos do que o futuro nos reserva.

A democratização, tão idealizada, estaria prejudicando os valores das produções. Os conteúdos tornaram-se supérfluos. Além das informações, os próprios produtos culturais estariam sendo afetados.

O que a revolução da Web 2.0 está realmente proporcionando são observações superfciais do mundo, em vez de uma análise profunda, uma opinião estridente, ou um julgamento ponderado. O negócio 4/9 da informação está sendo transformado pela Internet no puro barulho de 100 mi de blogueiros, todos falando ao mesmo tempo sobre si mesmos.

A cauda longa, a segmentação de nichos culturais também não agrada  Keen, diante tantas produções como identificar os verdadeiros talentos, quando todos têm o mesmo espaço. Principalmente, quando a venda de músicas caiu mais de 20% a partir do auge da web 2.0.

Encontrar e promover o verdadeiro talento em um mar de amadores pode ser o verdadeiro desafo da Web 2.0. O fato é que a visão de Anderson de uma mídia achatada, sem hits, é uma profecia autorrealizável. Sem o cultivo de talentos não há hits, pois o talento que os cria nunca é cultivado ou não tem permissão para brilhar.

 Keen tem uma visão pessimista quanto o futuro diante da web 2.0, diante o controle está com singelos amadores, sem nada sair da superficialidade, enquanto, os que prezam pelo melhor serem prejudicados.

Mídia, informação, conhecimento, conteúdo, público, autor — tudo iria ser democratizado pela Web 2.0. A Internet ia democratizar a grande mídia, as grandes empresas, o grande governo. Iria até democratizar os grandes especialistas, transformando-os no que um amigo de O’Reilly chamou, num tom contido e reverente, de “nobres amadores”.

 

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